Médicos falam sobre o uso de um "novo tipo de arma” em Gaza

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Publico abaixo a tradução de uma reportagem do jornalista Al-Arish, publicada no Le Monde de 12.01.2008. A limpeza étnica pretendida pelo Estado de Israel no Gueto de Gaza faz uso de um novo tipo de armas, a cujas vítimas o socorro médico é impotente.
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Feridos de um tipo novo – adultos e crianças cujas pernas não são mais do que caroços queimados e sangrentos – foram mostrados nesses últimos dias pelas televisões árabes que transmitem de Gaza. Domingo, 11 de Janeiro, foram dois médicos noruegueses, únicos ocidentais presentes no hospital da cidade, que deram testemunharam disso.
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Os doutores Mads Gilbert e Erik Fossa, que intervêm na região há vinte anos com a organização não governamental (ONG) norueguesa Norwac, puderam sair do território na véspera, com quinze feridos graves, pela fronteira com o Egipto. Não sem últimos obstáculos: “Há três dias, o nosso comboio, apesar de conduzido pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, teve que dar meia volta antes de chegar à Khan Younès, onde tanques atiraram para parar-nos”, dizem aos jornalistas presentes à Al-Arish.
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Dois dias mais tarde, o comboio passou, mas os médicos, mesmo com o embaixador da Noruega vindo acolhê-los, foram bloqueados toda a noite “por razões burocráticas” dentro do terminal transfronteiriço egípcio de Rafah, entreaberto apenas para missões sanitárias. Nesta noite, vidraças e um teto do terminal foram quebrados pela pressão de uma das bombas jogadas na proximidade.
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“A 2 metros, o corpo é cortado em dois; a 8 metros, as pernas são cortadas, queimadas”
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“No hospital Al-Chifa, de Gaza, não vimos queimaduras por fósforo, nem feridos por bombas à sub-munições. Mas vimos vítimas do que temos todas as razão para pensar ser um novo tipo de arma, experimentado pelos militares americanos, conhecido sob o acrônimo DIME – para Dense Inert Metal Explosive", declararam os médicos.
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Pequenas bolas de carbono que contêm uma mistura de tungstênio, de cobalto, de níquel ou de ferro, têm um enorme poder de explosão, mas que se dissipa à 10 metros. “A dois metros, o corpo é cortados em dois; à oito metros, as pernas são cortadas, queimadas como por milhares de picaduras de agulhas. Não vimos os corpos dissecados, mas vimos muitos amputados. Houve casos semelhantes no Sul do Líbano em 2006 e vimos em Gaza no mesmo ano, durante a operação israelense Chuva de verão. Experiências sobre ratos mostraram que estas partículas que permanecem no corpo são cancerígenas ", explicaram.
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Um médico palestino, interrogado domingo por Al-Jazira, falou da sua impotência nesses casos: “Não têm nenhum vestígio de metal no corpo, mas hemorragias internas estranhas. Uma matéria queima seus vasos e provoca a morte, não podemos fazer nada”. De acordo com a primeira equipe médica árabe autorizada a entrar no território, que chegou sexta-feira pelo Sul ao hospital de Khan Younès, este acolheu “dezenas” de casos desse tipo.
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Os médicos noruegueses se sentiram se obrigados, dizem eles, a testemunhar o que viram, na ausência em Gaza de qualquer outro representante “do mundo ocidental” – médico ou jornalista: “É possível que esta guerra seja o laboratório dos fabricantes de morte? Pode-se que século XXI possa-se enclausurar 1,5 milhão de pessoas e fazer qualquer coisa que se queira chamando-as de terroristas?”
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Chegados no quarto dia da guerra ao hospital Al-Chifa, que conheceram antes e após do bloqueio, encontraram uma construção e equipamento “no fim da vida útil”, um pessoal já esgotado, morrendo por toda a parte. O material eles prepararam ficou bloqueado na passagem de Erez.
“Quando cinquenta feridos chegam de uma veze às urgências, o melhor hospital de Oslo estaria mal”, dizem eles. “Aqui, as bombas podiam cair dez por minutos. Vidraças do hospital foram pressionadas pela destruição da mesquita vizinha. Quando de certas alertas, o pessoal deve refugiar-se nos corredores. A sua coragem é incrível. Podem dormir duas a três horas por dia. A maior parte tem vítimas entre os seus parentes, ouvem na rádio interna a ladainha dos novos lugares atacados, às vezes onde se encontra a sua família, mas deve permanecer trabalhando… Na manhã da nossa partida, chegando na urgência, perguntei como se tinha passado a noite. Uma enfermeira sorriu. E seguidamente derreteu em lágrimas”.
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Nesse momento de sua narrativa, a voz do doutor Gilbert vacila: “Vê”, retoma sorrindo calmamente, “eu também…”
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